Olá, meu povo, tudo bem ?
Mais uma obra da lista da Fuvest para hoje: Vidas
Secas
Primeiro, seu autor.
Graciliano
Ramos,
escritor alagoano, nasceu em 1892. Durante as diversas mudanças de sua família,
transitou por muitos locais nos estados de Alagoas e Pernambuco, que acabou
usando como cenários de seus livros.
Dono de um estilo conciso e sóbrio, é considerado o melhor
ficcionista do Modernismo.
Graciliano era muito preocupado com a linguagem, e seu modo de escrever muitas
vezes reflete o tom rude do sertanejo, descreve os ambientes desolados desse
ambiente árido e mostra o homem como subumano e animalizado, devido ao
sofrimento a que é exposto.
Vidas Secas, de 1938, é um bom
exemplo disso.
Narra a história de uma família obrigada a
ser retirante para fugir de uma grande seca. Fabiano (o pai), Sinhá Vitória (a mãe), o menino mais velho, o menino mais novo e a cachorrinha Baleia fogem
da seca e chegam a uma fazenda, onde vivem de maniera miserável, enquanto
aguardam esse período passar para que possam voltar para casa. Mas, com o
esgotamento dos recursos, são forçados a continuar a retirada, sempre na
esperança de que tudo irá se resolver.
O romance mostra a terra como tirana, que faz o homem
sofrer de modo cruel. Fabiano é o sertanejo que vive de maneira oprimida e que é
obrigado a se arrastar com a família, o que os leva a uma degradação física e moral.
Os seres humanos passam a agir como animais, sem
condições de falar, expressando-se por gestos e sons guturais. Este tema de animalização já foi tratado em romances
naturalistas na Europa e no Brasil,
como podemos ver nas obras de Émile Zola e Aluísio Azevedo, por exemplo.
De todas as personagens, a que parece mais humana e demonstra mais sentimentos é
a cachorrinha Baleia, que faz o caminho oposto do resto da família: ela se humaniza,
enquanto os demais se animalizam.
Temos dois trechos para mostrar como isto funciona.
Primeiro, um que descreve Fabiano:
Vivia longe
dos homens, só se dava bem com
animais. Os seus pés
duros quebravam espinhos e
não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se
a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava
bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes
utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos
brutos – exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da
gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram
inúteis e talvez perigosas.
Em
contrapartida, vemos as reações quase humanas de Baleia, como neste trecho que
fala sobre seus momentos finais:
Não se
lembrava de Fabiano. Tinha havido um desastre, mas Baleia não atribuía a esse
desastre a impotência em que se achava nem percebia que estava livre de
responsabilidades. Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava
vigiar as cabras: àquela hora
cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas
afastadas.
Graciliano escreveu outras obras importantes
como Caetés, São Bernardo e Memórias do Cárcere, e é colocado como dos nossos
maiores escritores, ao lado de Machado de Assis.
Bem, voltamos numa próxima oportunidade com
outra das obras da Fuvest 2014.
Um beijão para todos e... boa leitura !!!
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