sábado, 31 de maio de 2014

Crase I... a missão.

Olá, meu povo, vamos também fazer alguns posts sobre um assunto que dá medo a todo mundo que tem de escrever textos: a famigerada crase (ahhhhhhhhh !!!). E vamos ver que não é nenhum problema insolúvel, não.

Porém, este assunto requer bastante tempo... temos muitas regras e muitas exceções a ver. E vamos aos poucos, não é mesmo ? E dá-lhe post para tanta coisa.

Primeiramente, informações. Crase é um fenômeno fonológico (da área da língua que estuda os sons) e nada mais é que a junção de dois sons vocálicos iguais. A palavra crase vem do grego krásis, que significa junção, fusão. Este fenômeno ocorre muito na evolução dos vocábulos das línguas naturais e é estudado num ramo que se chama Gramática Histórica.

Aquele acento lindinho, que é o grampinho da vovó invertido ( ` ) não é o “acento crase”, ele se chama acento grave, está bem ? 

Crase é o fenômeno de junção vocálica, que, no nosso caso, acontece com a vogal a. Quando duas vogais a se encontram, fazemos a junção (crase) e colocamos um acento grave para marcar que deveria haver ali duas letras a. E o fenômeno fica assim: à.

Até aqui está fofo..., e quando isso ocorre no português ? Simples, nos casos seguintes:

a)    Quando temos a preposição a e os artigos definidos a e as;
b)    Quando temos a preposição a e os pronomes demonstrativos a e as;
c)  Quando temos a preposição a e os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo.

A crase existe quando temos uma palavra que pede preposição a, que é seguida de uma palavra que admite na sua frente um artigo feminino a, as, ou os demonstrativos a, as, aquele(s), aquela(s), aquilo.

Com os exemplos, a coisa fica mais clara:

O rapaz foi a (porque quem vai, vai a algum lugar) + a feira (palavra que pede artigo a) comprar tomates.
Antigamente, escrevia-se assim: O rapaz foi aa feira comprar tomates.

Para simplificar, coloca-se o a com o acento grave: O rapaz foi à feira comprar tomates.

Na verdade, em 90% dos casos, à é simplesmente o feminino de ao.

Então, uma primeira dica fácil. Substitua a palavra feminina por uma masculina. Se no masculino colocarmos ao, no feminino será à. Querem ver ?

Existe crase em: Joana foi a França ver a Torre Eiffel ?

Simples: mude para o masculino. Vamos colocar Japão e Monte Fuji ?

Nós dizemos: Joana foi ao Japão ver o Monte Fuji. Onde colocamos ao, no masculino, devemos pôr à, nos demais casos, não há crase.

O correto é: Joana foi à França ver a Torre Eiffel.

Um segundo toque: lugares. Se ir a algum lugar nos dá trabalho, que tal virmos daquele lugar ? Se, ao virmos de um lugar, ele pedir as preposições contraídas da e das, teremos crase ao irmos para estes mesmos lugares. Se a resposta de vir for com a preposição de, não há crase, somente a preposição a. Vamos conferir ?

Ir a Paris tem crase ? Eu venho de Paris, então não há crase.
Eu vou a Brasília... eu venho de Brasília, então, sem crase.
Amanhã iremos 'a' Itália... nós viremos da Itália, então com crase: Iremos à Itália.
Vamos 'as' Bahamas... Chegamos das Bahamas... então, há crase: Vamos às Bahamas.

Terceiro toque de hoje: não existe crase diante de palavra masculina... fica a dica... Alguns exemplos:

Andamos muito a pé (pé é masculino);
Elas compraram aquelas roupas a prazo (prazo é masculino);
Não estou me referindo a homens covardes, mas aos corajosos (homens é masculino).

E por aí vai... 

Bem, chega por hoje, há muita coisa a falar sobre crase, acompanhem e anotem as dicas... vamos voltar com este assunto, beleza ?

Dúvidas, problemas ? Contatem por e-mail ou in-box no Facebook.


Até mais. Beijos !

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Francês: uso do partitivo.

Bonjour, mes amis ! Vous allez bien ?

Vamos conhecer hoje uma coisinha chatinha do francês, que o português de Portugal ainda usa e nós abandonamos há muito tempo... numa galáxia muito distante (opa !, isto é outra área ! rsrsrsrsrs).

Quem aqui já ouviu falar em artigo partitivo ? Bem, se querem falar bem francês, é necessário saber um pouco mais do assunto.

O partitivo é usado em francês (e no português de Portugal em alguns casos) para indicar substantivos que não podem ser contatos, ou cuja quantidade não é determinada, além de outras situações que descreveremos ainda neste post.

Por exemplo, em português:

Comi do bolo na festa. (não sei que quantidade foi, mas foi um pouco dele)

Diferente é dizer comi uma fatia de bolo (a fatia é quantidade, não é mesmo ?)

Aí vocês vão me dizer: quem fala comi do bolo ? Nós aqui não falamos, mas nossos primos lusitanos falam...

Bem, em francês, o partitivo é introduzido por uma contração da preposição de e dos artigos le, la, l', les.

Em francês, temos: du (masculino), de la (feminino), de l’ (quando a palavra começa por vogal ou h mudo), des (plural).

Falamos:

Je bois du café tous les matins avant de travailler. (eu bebo do café, parte dele, porque não disse quanto...).

Je mange de la salade le soir pour maintenir ma taille de guêpe... (como da salada, não falei quanto, para manter minha cinturinha de pilão, hehehe).

Quando indicamos a quantidade, o partitivo não deve ser usado, está bem ?
Ex.: Je vais boire un verre de jus. (um copo é quantidade, então não diga “du verre de jus”,           credo !!!)

Então, usa-se o partitivo nas seguintes situações:

Com comidas e bebidas, quando não informamos as quantidades:
Ex.: Je bois de l’eau tout le temps. Il faut manger des fruits regulièrement.

Com atividades esportivas:
Ex.: J’'ai besoin de faire du sport. Mes amis font toujours de la natation.

Com sentimentos:
Ex.: Pour continuer, il faut avoir de la patience. Il a du courage por faire cela.

Com substantivos incontáveis:
Ex.: J’ai de l’argent pour faire le voyage à Paris.

Gente, alguns podem dizer, como assim que dinheiro não é contável ? E não é mesmo, ninguém conta dinheiro, alguém fala tenho três dinheiros para comprar um pastel ? Nós contamos reais, dólares, euros (nós aqui é fictício, está bem ?, não ando contando nem muitos reais ultimamente, rsrsrsrs), não dinheiro, este é incontável.

Bem, para encerrar este post, fica uma informação importante... o partitivo é variável nas formas afirmativa e interrogativa. Na forma negativa, ele deve ser introduzido somente pela preposição de.

Exemplos:

Je ne bois pas d’eau tout le temps. Il ne faut pas manger de fruits une fois par mois.
Je n’ai plus besoin de faire de sport. Mes amis ne font jamais de natation.
Pour continuer, il ne faut pas avoir de patience. Il n’a pas de courage por faire cela.
Je n’ai pas d’argent pour faire le voyage à Paris.

Ah! Uma última coisa... alguns verbos não admitem partitivo, é o caso de aimer, préférer e adorer... com eles usamos os artigos definidos (le, la, les).

Ex.: J'aime le chocolat. Elle préfère les boissons chaudes. J'adore la natation.


Espero ter esclarecido algumas dúvidas sobre o assunto... mas, se tiverem dificuldades, entrem em contato pelo e-mail ou in-box no meu perfil do Facebook.

Du courage, mes amis ! Étudiez le français !

Um beijo a todos !















quinta-feira, 29 de maio de 2014

O Realismo Francês: Gustave Flaubert

Olá minha gente, tudo bem ?

Vamos falar um pouco sobre um autor francês muito conhecido: Gustave Flaubert.

Ele ficou famoso ao lançar seu livro Madame Bovary, em 1857. O livro relata a história de Emma Bovary, moça ingênua, encantada com livros românticos e que sonha em ter uma vida como a dos romances que lia. Casada com Charles Bovary, um médico do interior apaixonado por ela, mas que ela considera enfadonho. A vida simples do campo não encanta Emma, que deseja ter um amor ardente, o que a leva para o caminho perigoso do adultério.

Flaubert foi processado por causa do lançamento deste livro, por atentado grave ao pudor, por falar sobre assuntos que na época eram tabu. No tribunal, após ser questionado de onde ela havia tirado essa história tão depravada, ele declarou ao júri:

“Emma Bovary c’est moi !” (Emma Bovary sou eu !).

Tudo para escapar das acusações.

Flaubert foi um dos pioneiros, na França, do Realismo e tinha uma obsessão pela escrita. Diz-se que ele passava horas, às vezes dias, para criar uma frase de seus romances, que deveria em tudo ser correta e retratar a realidade a todo custo. Ele tinha a ideia fixa do mot juste (a palavra justa, correta), ou seja, que cada ideia ou situação tem as palavras corretas que as descrevem, e que não podem ser substituídas por outras. Isso é que é dar atenção ao texto !!!

Dizem que Eça de Queirós baseou-se para escrever O Primo Basílio na obra de Flaubert, e as histórias são realmente muito semelhantes... leiam Eça também... fica a dica.

Apesar da fama de Madame Bovary, vale a pena ser visto também o romance L’Éducation Sentimentale (A Educação Sentimental), onde há uma crítica à situação política da época, aos costumes burgueses hipócritas e ao romantismo piegas, que é degenerado pelas necessidades da carne e do dinheiro.

Ele também se aventurou num romance histórico, Salammbô, que narra as guerras púnicas do início da era cristã, além de alguns contos.

Que tal conhecer melhor o autor realista francês e sua obra ?


Sugestão de autores, escolas, textos ? Não fiquem aí na inércia, mandem para nós !


Um beijão para todos !







quarta-feira, 28 de maio de 2014

Pérolas da internet

Olá, pessoal, tudo bem ?

Hoje quero falar sobre algumas “pérolas” que encontramos pela internet, em e-mails e em páginas de redes sociais por aí...

Vamos ver como devemos escrever corretamente certas coisas ? Observem:

Com certeza (sempre separado) – “concerteza” é a morte...

Por isso (sempre separado) – de onde apareceu “porisso”, meu Deus ?

Anexo, anexa, anexos, anexas sempre concordam com a palavra a que se referem – “em anexo” é considerado galicismo (chique, né ?, mas galicismo nada mais é que usar palavras e expressões francesas por engano, quando em português é diferente) e não devemos utilizá-lo em nossa língua. Devemos falar: segue carta anexa, documento anexo, materiais anexos, tabelas anexas, está bem ?

Logo mais quer dizer em breve. Falar “logo menos” não significa que você vai fazer algo ainda mais rápido, e essa expressão não existe, meu povo...

(forma abreviada de você), se é para condições...

A gente (nós), agente é aquele que trabalha numa agência, como agente de tráfego, agente secreto, agente de saúde...

Mais é o contrário de menos, mas é o mesmo que porém...

Nem preciso dizer que “menas” não existe, não é mesmo ? Falar isso é pedir pra morrer...

“Teno”, “vendeno”, “aprendeno”, “falano”, que é isso ? Tendo, vendendo, aprendendo, falando...

“Seje” e “esteje” não existem, simples assim... use seja e esteja.

E gerúndios só servem para indicar ações contínuas... nunca para outro tempo ou modo verbal, principalmente o futuro... então, é correto dizer “estou lendo um livro nesse instante”, ação contínua; agora, “vou estar mandando uma cópia para você” é de um horror sem explicação... No futuro, digo somente “mandarei, ou vou mandar, uma cópia para você”... menos é muito mais...

E um dia em que vi uma pessoa postar numa rede social que estava com dor por causa da retirada do  “cizo” ? Levei uns instantes para entender que se tratava do siso, o dente... Este nome vem da antiga ideia de que quando esses dentes (os últimos molares) saíam era porque a pessoa estava na idade do siso (siso é juízo, pessoal...).

Gente, antes de postar algo na sua página ou escrever seu e-mail, na dúvida, consulte o dicionário, senão o mico é enorme... Fica a dica...

Mais para frente continuo com outras coisinhas que encontrar pela web...

Dúvidas e sugestões, assessoria e aulas, se precisarem, usem este espaço ou entrem em contato por e-mail...

Bom dia para todos !


terça-feira, 27 de maio de 2014

Gênero de alguns substantivos

Bom dia, pessoal !

Algumas dúvidas com relação ao gênero dos substantivos (se são masculinos ou femininos). Às vezes não sabemos como falar as palavras...

Será que devemos falar assim ? :

“Comprei quinhentas gramas de presunto.”
“Pegue o cal para fazer o doce de abóbora.”
“Vamos comemorar com uma champanhe.”

Quem nunca falou frases semelhantes a estas ? Agora, falar é uma coisa, estar certo já é outra bem diferente...

Então, vamos lá.

São masculinos: o dó (pena), o grama (peso),  o champanha (não é ‘champanhe’, é champanha mesmo), o hosana, o herpes, o guaraná, o púbis, o magazine, o plasma, o coma, entre outros.

São femininos: a alface, a derme, a omoplata, a pane, a cal, a entorse, a libido, a celeuma, a cataplasma, a mascote, a gênese, a comichão, entre outras.

Então, nossas frases acima devem ficar assim:

“Comprei quinhentos gramas de presunto.”
“Pegue a cal para fazer o doce de abóbora.”
“Vamos comemorar com um champanha.”

Quando formos falar de alguém (coisa que ninguém faz, né ?), devemos dizer que estamos com um dó tão grande daquela pessoa, ou que aquilo nos deu um dó, senão estaremos cometendo um erro bem feio de português...

Já alguns substantivos mudam de significado ao usarmos o mascunino ou o feminino. Querem ver?

o cabeça – o líder                       a cabeça – parte do corpo
o cisma – a separação              a cisma – ato de cismar
o cinza – a cor                             a cinza – resíduo de combustão
o coral – cantores                       a coral – cobra
o cura – padre                             a cura – ato de curar
o estepe – do carro                    a estepe – vegetação
o grama – medida de peso       a grama – a relva
o guia – pessoa que guia          a guia – documento
o caixa – funcionário                  a caixa – recipiente, guichê de pagamento
o moral – o ânimo                       a moral – honestidade, bons costumes
o nascente – onde nasce o sol    a nascente – a fonte
o rádio – aparelho                      a rádio -  estação emissora

Na dúvida, é sempre bom consultar o velho e bom dicionário... e ele não é o pai dos burros, não, é o pai dos bem espertos... entenderam ? Fica a dica...

É isso aí. Dúvidas e sugestões, entrem em contato no nosso espaço... se for muito mais complexo, mandem sua dúvida ou solicitação por e-mail, está bem ? Um abraço a todos.


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Verbos pronominais em francês que não são pronominais em português: que maçada !!!

Olá, meu povo, ça va, tout le monde ?

Hoje, quero falar sobre um probleminha que ocorre com quem aprende francês: verbos que são usados pronominalmente nesta língua, e que em português não são.

Primeiramente, vamos relembrar o que é um verbo pronominal. Chama-se verbo pronominal aquele que é conjugado com dois pronomes, por exemplo, chamar-se. Quando conjugamos este verbo, usamos dois pronomes, querem ver ?

Eu me chamo Jefferson (eu e me são pronomes, e usamos os dois para a conjugação).

Se o sujeito fosse Maria, diríamos ela se chama... e por aí vai.

O francês possui também verbos pronominais. No caso, eles têm o verbo s’appeler, correspondente ao nosso chamar-se, e que se conjuga com dois pronomes:

Je m’appelle Jefferson. Elle s’appelle Maria.

O problema aqui não é de conjugação, e podemos falar sobre isto depois. Quero chamar a atenção de vocês para o fato de que alguns verbos são usados pronominalmente em francês, e no português eles não o são, o que faz com que os conjuguemos de maneira errada em francês.

Seguem alguns verbos pronominais em francês e seus equivalentes em português, que não são pronominais:

s’arrêter – parar
se promener – fazer uma caminhada, um passeio, passear
s’en aller – ir embora
s’ennuyer – ficar entediado
se brosser les dents – escovar os dentes
se reposer – descansar
se réveiller – acordar

Existem outros, vale a pena pesquisar, mas o importante é saber que, quando falamos em francês, devemos lembrar de conjugá-los com os dois pronomes, para não falarmos de maneira errada e pagarmos um micão com os gringos, ok ?

Vamos a alguns exemplos pra encerrar este assunto:

Je me brosse mes dents au moins deux fois par jour. (o francês “se” escova os dentes...)

Nous allons nous arrêter à Paris avant de continuer le voyage sur Nice. (o francês “se” para nos lugares...)

Maintenant, j’ai besoin de me reposer un peu. (e eles “se” repousam...)


Donc, il faut faire attention ! Dúvidas, sugestões, não hesitem em falar... e mais francês em outra ocasião.

Até mais, meu povo !

domingo, 25 de maio de 2014

Literatura: você conhece Camões ? E o du Bellay ?

Olá, pessoal, e a vida, tudo bem ?

Hoje, para tornarmos este nosso espaço mais élevé, como diriam os franceses (de mais nível), vamos apresentar dois representantes da época do Renascimento, da era chamada Clássica, e sua escola literária, o Classicismo, em língua portuguesa e em língua francesa.

O representante da nossa língua é o já conhecido (de nome) Luís Vaz de Camões (1524-1580).

O representante francês é Joachim du Bellay (1522-1560), um ilustre desconhecido para nós.

Camões é considerado um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos, e trabalhou em diversas áreas da literatura: poesia lírica (ligada às emoções), poesia épica (de aventura, heroica) e teatro. Sua obra mais importante é o famoso livro Os Lusíadas, difícil de ser lido, mas que vale a pena ser desafiado, nem que sejam só alguns trechos.

Só de sabermos do trabalho que ele teve em escrever uma história épica em versos heroicos (não tem mais acento, ok ? fica a dica...), ou seja, de dez sílabas poéticas cada, em oitavas (estrofes de oito versos), com rimas dispostas de maneira idêntica (ABABABCC), num total de 10 cantos, com 1102 estrofes, que formam 8816 versos, temos de, pelo menos, admirar sua genialidade e a dificuldade que ele enfrentou para escrever tudo isso... sem contar que dizem que ele perdeu o tal livro num naufrágio e teve de reescrevê-lo de memória... o cabra era bom... outros dizem que ele tinha uma amante, que morreu no naufrágio porque ele preferiu segurar o livro a salvá-la...

Coloco aqui um soneto, obra de poesia lírica, para mostrar como o mestre português era hábil em fazer versos (ah, os sonetos de Camões não têm título, normalmente são conhecidos e nomeados pelo seu primeiro verso):

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o Mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.

(Luís de Camões, Lírica)


Joachim du Bellay, contemporâneo do Luíz Vaz, era francês, e, juntamente com seis outros poetas, formou o primeiro grupo organizado de poetas na França, no séc. XVI, a Pléiade. Diferentemente do uso do clássico verso decassílabo (de dez sílabas poéticas), ou heroico, muito usado em Portugal e no Brasil por influência dos italianos, os autores da Pléiade optaram pelo verso de doze sílabas, chamado de dodecassílabo ou alexandrino, e popularizaram a forma, que é usada até hoje pelos franceses.

Posto também um belo soneto de du Bellay, feito em alexandrinos:

Heureux qui, comme Ulysse, a fait un beau voyage,
Ou comme cestuy-là qui conquit la toison,
Et puis est retourné, plein d'usage et raison,
Vivre entre ses parents le reste de son âge !

Quand reverrai-je, hélas, de mon petit village
Fumer la cheminée, et en quelle saison
Reverrai-je le clos de ma pauvre maison,
Qui m'est une province, et beaucoup davantage ?

Plus me plaît le séjour qu'ont bâti mes aïeux,
Que des palais Romains le front audacieux,
Plus que le marbre dur me plaît l'ardoise fine :

Plus mon Loir gaulois, que le Tibre latin,
Plus mon petit Liré, que le mont Palatin,
Et plus que l'air marin la doulceur angevine.

(Joachim du Bellay, Les Regrets)


Tanto no soneto português quanto no francês, devemos observar palavras de uso na época que não são mais correntes, ou de formas que se alteraram com o tempo.

Vale a pena tentar entender o que eles quiseram dizer nos seus versos e aventurar-se a traduzir o poema francês... Saber nunca é demais e, como se diz, não ocupa espaço...


Ufa ! Espero que tenha despertado a curiosidade de vocês para estes autores... Procurem saber mais... Sugestões, dúvidas, entrem em contato ! 

Au revoir, mes amis !

sábado, 24 de maio de 2014

Verbos ter, vir, dar, coar, voar e outros: com ou sem acento? Um ou dois "e"?

E aí, pessoal, tudo tranquilo ? (sem trema, ele morreu e foi enterrado... RIP... fica a dica...)

Hoje quero falar sobre uma dúvida frequente quando usamos certos verbos em textos escritos... se as formas dobram a vogal ou não, se há acento ou não. É o que veremos agora.

Com a Nova Ortografia em vigor (é incrível, não é ?, mas ela está em vigor...), alguns verbos que já tinham formas com a vogal dobrada, e que eram acentuadas, agora mantêm a dupla vogal, mas perderam o acento.

É o caso dos verbos ver, dar, abençoar, voar, coar. Dizemos:
Eles veem sempre este filme (verbo ver).
É preciso que eles deem uma olhada neste trabalho (verbo dar).
Eu abençoo a união de vocês (verbo abençoar).
Eu voo regularmente nessa companhia aérea (verbo voar)
Deixe que eu coo o café (verbo coar).

Já nossos amigos, os verbos vir e ter, funcionam de um jeito diferente: eles não dobram a vogal; no singular, não têm acento, no plural, têm um acento circunflexo (o chapeuzinho do vovô...).

Ele vem, eles vêm.
Ele tem, eles têm.

Claro que não podia ficar nisso... agora vamos aos verbos compostos de vir e ter.
O que é isso ? Simples, verbos que se formaram a partir deles. Por exemplo, são compostos de vir: advir, convir, intervir, provir, sobrevir, e outros. São compostos de ter: abster-se, ater-se, conter, deter, entreter, manter, obter, reter, e outros.

Estes verbos compostos devem ser conjugados no singular com acento agudo (o grampinho de cabelo da vovó...) e no plural com o acento circunflexo.

Ele detém, eles detêm.
Ele provém, eles provêm.

É isso aí. Os problemas da nossa língua não os detêm ? Então participem do nosso espaço com dúvidas e sugestões sobre este ou outro assunto. 

Até mais.


quinta-feira, 22 de maio de 2014

Meio ou meia ?

Olá, meu povo, tudo bem por aí ? Espero que sim.

Hoje, quero falar sobre um assunto meio complicado... o uso do grupinho de palavras meio, meia. Quantas dúvidas surgem quando temos de usar nossos amigos aí em cima (em cima, contrário de embaixo, é sempre separado, viu ?, fica a dica...).

Então, vamos a alguns conselhos úteis:

Quando meio e meia significam metade, devem concordar com a palavra a que se referem.
Ex.: Comprei meio melão na feira. Dei meia torta para a minha mãe.

Agora, meio é invariável (não muda de forma para o feminino) quando se refere a qualidades e significa um pouco.
Ex.: Meu irmão levantou meio doente hoje. Essa situação é meio delicada.

Doente e delicada são qualidades (adjetivos) e se relacionam à palavra meio (um pouco, no caso, advérbio) sem variação. Ninguém pode dizer que está “meia cansada”... além de errado, dói o ouvido...

Por isso, o certo é:

Agora é meio dia e meia (metade do dia mais metade de uma hora). Se dissermos meio dia e meio, declaramos que é um dia inteiro !!! Afinal, meio dia mais meio dia formam um dia... Assim também funciona meia noite e meia...

E é errado, até absurdo, se pensarmos logicamente:

Minha amiga está “meia triste” com o namorado. Só metade dela está triste ? A outra metade já superou a briga ? Ai, ai, ai... Então, temos de dizer: Minha amiga está meio triste com o namorado, pois é uma qualidade, e temos de usar a palavra meio, invariável...


Mais dúvidas com relação a estas palavras ? Dúvidas diferentes ? Coloquem no nosso espaço. 

Até mais.

Enfim, começamos.

Pessoal, há algum tempo venho pensando em criar um canal de comunicação onde pudéssemos falar a respeito de alguns temas de interesse nas áreas de português, literatura e francês, um espaço em que poderíamos discutir assuntos, tirar dúvidas, trocar informações sobre o que vivemos em relação ao uso das línguas, seja para o trabalho, os estudos, a preparação para vestibular ou concursos, para aperfeiçoar a redação, ou para a revisão de textos acadêmicos para universitários e tradução a quem necessite.

Depois de pensar a respeito, entrego aos amigos este blog, que visa a dar dicas práticas sobre erros comuns que cometemos em textos escritos, para que todos possam esclarecer suas dúvidas sobre o que escrevemos ou falamos, e para que possamos divulgar o cultivo de uma linguagem correta, sem complicações, e para desmistificar que o estudo de línguas, a nossa língua materna ou qualquer estrangeira, é difícil, e que literatura e ler são coisas chatas...

Tudo tem sua lógica, e, toda a semana, vocês e eu vamos descobrir isso juntos.

Participem, tragam suas questões, sugiram temas, estamos aqui para resolver, conversar e melhorar conhecimentos.


Bom dia a todos ! (sim, a todos sem crase, fica a dica...)