terça-feira, 22 de julho de 2014

Lista de obras de literatura da Fuvest - A Cidade e as Serras


E aí, minha gente, tudo tranquilo ? Espero que sim.

Bem, estamos quase chegando ao final da nossa série sobre as obras de literatura para a Fuvest deste ano...

Hoje é a vez de A Cidade e as Serras, do escritor português Eça de Queirós.

Eça de Queirós (1845-1900) é um dos maiores escritores portugueses. Iniciou sua carreira publicando trabalhos esparsos, entre artigos e crônicas. Já nesta primeira fase, faz análises de contrastes entre o ideal romântico, que estava em decadência, e as novas ideias propostas pelo estilo realista, marcando a diferença entre a emoção e a razão.

Depois deste primeiro período, publica, em 1875, a obra que inaugura o Realismo em Portugal: O Crime do Padre Amaro. O livro é polêmico, e mexe com um dos pilares da sociedade da época: a Igreja. Inicia assim sua estrada pelo Realismo, criticando a vida burguesa e a sua decadência.

Eça tem um estilo ácido, contundente, e critica sem pena os valores deteriorados do seu tempo: a hipocrisia religiosa (O Crime do Padre Amaro), o adultério (O Primo Basílio), a sociedade lisboeta (Os Maias).

Depois desta segunda fase, o autor amadurece e abranda seu estilo. Começa a pensar a respeito de valores morais e da possibilidade de encontrar na simplicidade a razão da felicidade.

Neste período lança o pequeno romance A Cidade e as Serras. Nele, narra a história de Jacinto, homem que vive na cidade mais importante e avançada da Europa na época, Paris, e que fica entediado com a futilidade e o fausto que a grande cidade traz para ele.

Encontra a solução para esse vazio ao ir passar uma temporada no interior de Portugal, na pequena cidade de Tormes, onde acredita encontrar a paz na vida tranquila e junto à natureza proporcionada pela paisagem maravilhosa das serras.

Lá, ele reflete sobre a vida artificial que se vive em grandes cidades e acaba por se convencer de que o valor verdadeiro da felicidade está numa vida tranquila numa cidade pequena.

Jacinto acaba se estabelecendo e cria uma família.

O romance mostra que devemos cultivar os valores do espírito, e que de nada vale o progresso e a agitação da vida numa grande cidade sem termos esses valores preservados.


Vamos mostrar um trecho que fala sobre a vida simples no interior:


De tarde, depois da calma, fomos vaguear pelos caminhos coleantes daquela Quinta rica, que, através de duas léguas, ondula por vale e monte. Não me encontrara mais com Jacinto em meio da Natureza, desde o remoto dia de entremez em que ele tanto sofrera no sociável e policiado bosque de Montmorency. Ah, mas agora, com que segurança e idílico amor se movia através dessa Natureza, de onde andara tantos anos desviado por teoria e por hábito! Já não receava a humildade mortal das relvas; nem repelia como impertinente o roçar das ramagens; nem o silêncio dos altos o inquietava como um despovoamento do Universo. Era com delícias, com um consolado sentimento de estabilidade recuperada, que enterrava os grossos sapatos nas terras moles, como no seu elemento natural e paterno; sem razão, deixava os trilhos fáceis, para se embrenhar através de arbustos emaranhados, e receber na face a carícia das folhas tenras; sobre os outeiros, parava, imóvel, retendo os meus gestos e quase o meu hálito, para se embeber de silêncio e de paz; e duas vezes o surpreendi atento e sorrindo à beira dum regatinho palreiro, como se lhe escutasse a confidência...


Bem, voltamos com uma outra obra loguinho. Beijos ! Até uma próxima !



Nenhum comentário: