E aí, minha gente, tudo tranquilo ? Espero
que sim.
Bem, estamos quase chegando ao final da nossa
série sobre as obras de literatura para a Fuvest deste ano...
Hoje é a vez de A Cidade
e as Serras, do escritor português Eça de Queirós.
Eça de Queirós (1845-1900) é um dos maiores
escritores portugueses. Iniciou sua carreira publicando trabalhos esparsos, entre
artigos e crônicas. Já nesta primeira fase, faz análises de contrastes entre o
ideal romântico, que estava em decadência, e as novas ideias propostas pelo
estilo realista, marcando a diferença entre a emoção e a razão.
Depois deste primeiro período, publica, em
1875, a obra que inaugura o Realismo em Portugal: O Crime do Padre Amaro. O livro é polêmico, e mexe com um dos
pilares da sociedade da época: a Igreja. Inicia assim sua estrada pelo Realismo, criticando a vida burguesa e a sua decadência.
Eça tem um estilo ácido, contundente, e
critica sem pena os valores deteriorados do seu tempo: a hipocrisia religiosa (O Crime do Padre Amaro), o adultério (O Primo Basílio), a sociedade lisboeta (Os Maias).
Depois desta segunda fase, o autor amadurece
e abranda seu estilo. Começa a pensar a respeito de valores morais e da
possibilidade de encontrar na simplicidade a razão da felicidade.
Neste período lança o pequeno romance A
Cidade e as Serras. Nele, narra a história de Jacinto, homem que vive na cidade
mais importante e avançada da Europa na época, Paris, e que fica entediado com
a futilidade e o fausto que a grande cidade traz para ele.
Encontra a solução para esse vazio ao ir
passar uma temporada no interior de Portugal, na pequena cidade de Tormes, onde
acredita encontrar a paz na vida tranquila e junto à natureza proporcionada
pela paisagem maravilhosa das serras.
Lá, ele reflete sobre a vida artificial que
se vive em grandes cidades e acaba por se convencer de que o valor verdadeiro
da felicidade está numa vida tranquila numa cidade pequena.
Jacinto acaba se estabelecendo e cria uma
família.
O romance mostra que devemos cultivar os
valores do espírito, e que de nada vale o progresso e a agitação da vida numa
grande cidade sem termos esses valores preservados.
Vamos mostrar um trecho que fala sobre a vida
simples no interior:
De
tarde, depois da calma, fomos vaguear pelos caminhos coleantes daquela Quinta
rica, que, através de duas léguas, ondula por vale e monte. Não me encontrara
mais com Jacinto em meio da Natureza, desde o remoto dia de entremez em que ele
tanto sofrera no sociável e policiado bosque de Montmorency. Ah, mas agora, com
que segurança e idílico amor se movia através dessa Natureza, de onde andara
tantos anos desviado por teoria e por hábito! Já não receava a humildade mortal
das relvas; nem repelia como impertinente o roçar das ramagens; nem o silêncio
dos altos o inquietava como um despovoamento do Universo. Era com delícias, com
um consolado sentimento de estabilidade recuperada, que enterrava os grossos
sapatos nas terras moles, como no seu elemento natural e paterno; sem razão,
deixava os trilhos fáceis, para se embrenhar através de arbustos emaranhados, e
receber na face a carícia das folhas tenras; sobre os outeiros, parava, imóvel,
retendo os meus gestos e quase o meu hálito, para se embeber de silêncio e de
paz; e duas vezes o surpreendi atento e sorrindo à beira dum regatinho
palreiro, como se lhe escutasse a confidência...
Bem, voltamos com uma outra obra loguinho.
Beijos ! Até uma próxima !
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