E aí, minha gente, tudo bem ?
Mais uma obra da lista da Fuvest, talvez a
mais desconhecida: Til.
O seu autor, José de Alencar (1829-1877), nosso maior romântico, foi político, advogado, jornalista, orador e escritor, nascido no Ceará, e teve uma produção profícua de obras, e escreveu principalmente uma quantidade muito grande de romances de vários gêneros:
→ romances históricos: que mostram a história do Brasil, como em As Minas de Prata, o primeiro romance histórico brasileiro;
→ romances indianistas: que ressaltam as qualidades do índio, típico herói romântico brasileiro, como vemos em O Guarani, Iracema e Ubirajara;
→ romances urbanos: que se passam principalmente no Rio de Janeiro, mostram a sociedade na época da corte e a vida burguesa, como em Senhora, Lucíola e A Viuvinha;
→ romances regionalistas: a busca pelo nacionalismo levou Alencar a mostrar a cultura e a beleza das regiões do interior do país, como em O Tronco do Ipê e Til.
Este último narra a história de Berta,
apelidada de Til,
típica heroína romântica, que se desdobra para fazer o bem e que é um exemplo
de todas as virtudes de bondade apregoadas pelo espírito cristão, e tão a gosto
dos românticos.
Toda a história acontece no interior de São
Paulo, em Campinas, numa fazenda, onde é mostrado um panorama da vida rural nos
anos a partir de 1826, com a cultura, os hábitos, a economia do café e as
festas típicas da região.
O romance regionalista, o histórico e o indianista carregam uma característica importante para o
Romantismo: valorizar as raízes nacionais, encontrar uma identidade como povo brasileiro depois da independência do país, em 1822, e Alencar retrata em seus livros esses
aspectos sociais da formação de uma nação independente.
Naturalmente, as características de fundo
social e histórico são influenciadas pela visão do romântico, que idealiza os
seres e situações.
Berta mantém-se fiel a seus princípios e,
mesmo percebendo que todos na fazenda acabam saindo de lá para encontrar o
futuro, que corresponde à vida nas cidades, ela permanece para auxiliar aqueles
que dela necessitam, e acaba por ficar só no final do romance.
Temos em Til um exemplo de um típico romance
de cunho regionalista romântico, que ressalta um lado social que Alencar sabia
ser importante para o momento que ele vivia, e recheado com as características
idealizadas em voga nesse período.
Vamos ver um trecho abaixo, em que notamos a
dedicação de Berta para com os necessitados:
Berta
sentada à sombra do oitão da casa de nhá Tudinha, deitou sobre os joelhos a camisa
que estava cosendo para Jão, e embebeu no azul diáfano do horizonte um olhar profundo,
coalhado de lágrimas.
A seus
pés, Zana agachada na esteira, contempla extática o rosto da menina; e de vez
em quando o prazer íntimo que ela sente, derrama-se em sua fisionomia, e
banha-lhe o rosto de um riso baço.
Ao
lado, o Brás contempla Til com surda inquietação, que se trai a espaço pela contração
dos músculos faciais e pela extrema mobilidade da pupila espantada.
Neste outro trecho, vemos como a vida e os
costumes do interior funcionavam na época, quando falamos da atividade dos mascates:
Era um
mascate, dos muitos que percorrem a pé os circuitos das cidades do interior,
onde se demoram semanas a vender pelas fazendas e arraiais.
Descansavam,
à sombra de uma árvore, da excursão que já tinha feito naquela manhã, e da qual
lhe surtira bom lucro, pois estava ele entretido em contar os miúdos, que
tirava da algibeira da borjaca. Colocando-os, uns sobre outros, formava os
maços de dez, aos quais ia acomodando em uma grande carteira de marroquim azul,
aberta diante dele sobre a grama e já bem fornida de notas.
Ao
lado, estava a maleta de joias e miudezas, que ele costumava trazer às costas, presa
por uma correia, e um grosso bordão ferrado, que servia ao seu braço musculoso não
só de arrimo à fadiga, mas de arma formidável para a defesa.
Bem, acho que já dá para termos uma ideia do
que temos aqui, hein ?
Voltamos a falar em outra obra logo em breve.
Um beijão ! Até mais !
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