Olá, pessoal, tudo bem por aí ?
Vamos falar hoje de Literatura Brasileira...
Vamos conhecer um pouco do nosso maior poeta
simbolista ? Cruz e Sousa.
Primeiro, o que é o Simbolismo ? É um
movimento literário contemporâneo ao Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo.
Eles conviveram durante um tempo, e o Simbolismo se estendeu até às portas da
Semana de Arte Moderna, que historicamente marca o início do Modernismo no
Brasil...
Eu digo historicamente, porque não há uma
divisão muito estanque entre as escolas literárias, e não é por causa do início
de uma escola, pela publicação de uma obra importante, que as outras
simplesmente desaparecem... uma estética é predominante, mas as outras
continuam a apontar aqui ou acolá...
Enquanto o Realismo, o Naturalismo e o
Parnasianismo apregoavam uma tendência mais racional de literatura, dominada
pela ciência, pela psicologia, pelas ideias positivistas e deterministas, o
Simbolismo aparece para resgatar um ideal mais romântico, deixado para trás,
mas com um diferencial em relação ao Romantismo: em vez de se apegar ao
patriotismo, ao amor, ao sentimentalismo às vezes piegas deste, o Simbolismo
começa uma viagem ao interior do ser humano, às profundezas da alma, destacando
aspectos de espiritualidade, delírio, sonho, fantasia, metafísica...
Para expressar esses sentimentos, o poeta
simbolista (a poesia é o que se destacou neste período) utiliza-se de símbolos
(sons, cores, cheiros, aspectos táteis etc.). Vemos o uso (e o abuso) de
repetições de sons semelhantes, de musicalidade, de uso de sinestesias (mistura
de sensações) e o sentido é muitas vezes difícil de ser compreendido, pois a
poesia reflete um estado da alma que delira, além do uso que os poetas faziam
de um vocabulário rebuscado, de difícil entendimento para a maioria dos mortais
( o que pede muitas vezes um bom dicionário... ).
Características e temas frequentes na poesia
simbolista: a espiritualidade, o individualismo, o mundo interior, a complexidade
da alma humana, o inconsciente, a matéria em oposição ao espírito, o culto ao
belo, o sonho, o delírio, o conflito do ser, a dor, o misticismo, a
religiosidade, a morte.
Na França, tivemos poetas muito importantes,
como Baudelaire, Verlaine, Mallarmé e Rimbaud, e no Brasil temos como figura
mais importante Cruz e Sousa.
João da Cruz e Sousa (1861-1898) era filho de
pai escravo e mãe alforriada... Imaginem o preconceito que ele teve de
enfrentar nos meios cultos por ser negro e pobre, no séc. XIX...
A vida dele foi bem complicada: perdeu o pai,
o que o deixou muito abatido, além dos problemas com a esposa, que ficou
louca... Acham que isso é pouco ? Ele viveu uma vida de miséria e teve
tuberculose, o que o matou muito cedo, com 37 anos...
Ele iniciou sua carreira literária sob a
influência do Naturalismo imperante na época, e paralelamente participava
ativamente do movimento abolicionista, depois se deixou encantar pela
influência simbolista, que já era moda na Europa. Ele tinha verdadeira obsessão
pela cor branca e pelas transparências, e elas aparecem expressamente em seus
poemas, além dos conflitos e sofrimentos causados pela sua condição de negro e
pobre num país escravocrata. A vida de misérias causadas pelos seus dramas
pessoais o levam, na segunda fase de sua carreira, a um tom trágico, e até
mesmo tétrico, na sua obra, que mostram a dor da existência e o desencanto
diante da vida. Também perceberemos em suas poesias o erotismo, porque
brasileiro não consegue viver sem amor, né, não? Cruz e Sousa adorava escrever
sonetos.
Vamos ver alguns exemplos ? E desta vez não
citaremos Antífona, que todos já
conhecem...
Braços nervosos, brancas opulências,
Brumais brancuras, fúlgidas brancuras,
Alvuras castas, virginais alvuras,
Lactescências das raras lactescências.
As fascinantes, mórbidas dormências
Dos teus abraços de letais flexuras,
Produzem sensações de agres torturas,
Dos desejos as mornas florescências.
Braços nervosos, tentadoras serpes
Que prendem, tetanizam como os herpes,
Dos delírios na trêmula coorte…
Pompa de carnes tépidas e flóreas,
Braços de estranhas correções marmóreas,
Abertos para o Amor e para a Morte!
Tortura eterna
Ó Impotência cruel, ó vã tortura!
Ó Força inútil, ansiedade humana!
Ó círculos dantescos da loucura!
Ó luta, ó luta secular, insana!
Que tu não possas, Alma soberana,
Perpetuamente refulgir na Altura,
Na Aleluia da Luz, na clara Hosana
Do Sol, cantar, imortalmente pura.
Que tu não possas, Sentimento ardente,
Viver, vibrar nos brilhos do ar fremente,
Por entre as chamas, os clarões supernos.
Ó Sons intraduzíveis, Formas, Cores!...
Ah! que eu não possa eternizar as dores
Nos bronzes e nos mármores eternos!
Ele também escreveu em prosa, e vale a pena pesquisar a literatura que Cruz e Sousa nos deixou... Alguns de seus livros: Tropos e Fantasias, Missal, Broquéis, Evocações, Últimos Sonetos.
Gostaram de saber mais sobre o nosso Simbolismo ? Que bom ! A gente se vê em outro post, com mais novidades. Beijos e bom final de semana !
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