sábado, 7 de junho de 2014

O Simbolismo - Cruz e Sousa

Olá, pessoal, tudo bem por aí ?

Vamos falar hoje de Literatura Brasileira...

Vamos conhecer um pouco do nosso maior poeta simbolista ? Cruz e Sousa.

Primeiro, o que é o Simbolismo ? É um movimento literário contemporâneo ao Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo. Eles conviveram durante um tempo, e o Simbolismo se estendeu até às portas da Semana de Arte Moderna, que historicamente marca o início do Modernismo no Brasil...

Eu digo historicamente, porque não há uma divisão muito estanque entre as escolas literárias, e não é por causa do início de uma escola, pela publicação de uma obra importante, que as outras simplesmente desaparecem... uma estética é predominante, mas as outras continuam a apontar aqui ou acolá...

Enquanto o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo apregoavam uma tendência mais racional de literatura, dominada pela ciência, pela psicologia, pelas ideias positivistas e deterministas, o Simbolismo aparece para resgatar um ideal mais romântico, deixado para trás, mas com um diferencial em relação ao Romantismo: em vez de se apegar ao patriotismo, ao amor, ao sentimentalismo às vezes piegas deste, o Simbolismo começa uma viagem ao interior do ser humano, às profundezas da alma, destacando aspectos de espiritualidade, delírio, sonho, fantasia, metafísica...

Para expressar esses sentimentos, o poeta simbolista (a poesia é o que se destacou neste período) utiliza-se de símbolos (sons, cores, cheiros, aspectos táteis etc.). Vemos o uso (e o abuso) de repetições de sons semelhantes, de musicalidade, de uso de sinestesias (mistura de sensações) e o sentido é muitas vezes difícil de ser compreendido, pois a poesia reflete um estado da alma que delira, além do uso que os poetas faziam de um vocabulário rebuscado, de difícil entendimento para a maioria dos mortais ( o que pede muitas vezes um bom dicionário... ).

Características e temas frequentes na poesia simbolista: a espiritualidade, o individualismo, o mundo interior, a complexidade da alma humana, o inconsciente, a matéria em oposição ao espírito, o culto ao belo, o sonho, o delírio, o conflito do ser, a dor, o misticismo, a religiosidade, a morte.

Na França, tivemos poetas muito importantes, como Baudelaire, Verlaine, Mallarmé e Rimbaud, e no Brasil temos como figura mais importante Cruz e Sousa.

João da Cruz e Sousa (1861-1898) era filho de pai escravo e mãe alforriada... Imaginem o preconceito que ele teve de enfrentar nos meios cultos por ser negro e pobre, no séc. XIX...

A vida dele foi bem complicada: perdeu o pai, o que o deixou muito abatido, além dos problemas com a esposa, que ficou louca... Acham que isso é pouco ? Ele viveu uma vida de miséria e teve tuberculose, o que o matou muito cedo, com 37 anos...

Ele iniciou sua carreira literária sob a influência do Naturalismo imperante na época, e paralelamente participava ativamente do movimento abolicionista, depois se deixou encantar pela influência simbolista, que já era moda na Europa. Ele tinha verdadeira obsessão pela cor branca e pelas transparências, e elas aparecem expressamente em seus poemas, além dos conflitos e sofrimentos causados pela sua condição de negro e pobre num país escravocrata. A vida de misérias causadas pelos seus dramas pessoais o levam, na segunda fase de sua carreira, a um tom trágico, e até mesmo tétrico, na sua obra, que mostram a dor da existência e o desencanto diante da vida. Também perceberemos em suas poesias o erotismo, porque brasileiro não consegue viver sem amor, né, não? Cruz e Sousa adorava escrever sonetos.

Vamos ver alguns exemplos ? E desta vez não citaremos Antífona, que todos já conhecem...

Braços

Braços nervosos, brancas opulências,
Brumais brancuras, fúlgidas brancuras,
Alvuras castas, virginais alvuras,
Lactescências das raras lactescências.

As fascinantes, mórbidas dormências
Dos teus abraços de letais flexuras,
Produzem sensações de agres torturas,
Dos desejos as mornas florescências.

Braços nervosos, tentadoras serpes
Que prendem, tetanizam como os herpes,
Dos delírios na trêmula coorte…

Pompa de carnes tépidas e flóreas,
Braços de estranhas correções marmóreas,
Abertos para o Amor e para a Morte!



Tortura eterna

Ó Impotência cruel, ó vã tortura!
Ó Força inútil, ansiedade humana!
Ó círculos dantescos da loucura!
Ó luta, ó luta secular, insana!

Que tu não possas, Alma soberana,
Perpetuamente refulgir na Altura,
Na Aleluia da Luz, na clara Hosana
Do Sol, cantar, imortalmente pura.

Que tu não possas, Sentimento ardente,
Viver, vibrar nos brilhos do ar fremente,
Por entre as chamas, os clarões supernos.

Ó Sons intraduzíveis, Formas, Cores!...
Ah! que eu não possa eternizar as dores
Nos bronzes e nos mármores eternos!



Ele também escreveu em prosa, e vale a pena pesquisar a literatura que Cruz e Sousa nos deixou... Alguns de seus livros: Tropos e Fantasias, Missal, Broquéis, Evocações, Últimos Sonetos.


Gostaram de saber mais sobre o nosso Simbolismo ? Que bom ! A gente se vê em outro post, com mais novidades. Beijos e bom final de semana !

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