sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O Barroco no Brasil - poesia e oratória


Olá, pessoal, tudo tranquilo ?

Vamos falar um pouco de literatura ? Hoje nosso tema é o Barroco.

O nome Barroco inspira-se na pérola barroca, de diversas facetas, porque este movimento de transição na literatura é marcado por uma época de muitos conflitos no mundo.

A religião católica, dominante em muitos séculos, sofre seu primeiro abalo com a Reforma Luterana. Além disso, temos o Renascimento e o Humanismo, que mudavam a forma de conhecimento do mundo, pregando o Antropocentrismo em lugar do Teocentrismo predominante até a Idade Média.

Para tentar retomar terreno e fiéis perdidos durante este período, a Igreja empreende a chamada Contrarreforma, para trazer novamente os homens à fé católica.

O homem desse mundo de conflitos reflete na literatura essa dualidade homem/Deus, razão/emoção, e o Barroco se estabelece.

Movimento muito ligado às artes plásticas, que criaram quadros, esculturas e pinturas magníficos (veja-se a obra de Aleijadinho), também teve uma vertente literária ligada à poesia e à oratória no Brasil.

Nosso país, no começo de sua vida, ainda colônia de Portugal  (devemos lembrar que estamos nos anos 1600), não tinha uma produção literária desenvolvida, e os únicos autores de destaque eram de classes abastadas e que estudaram em Portugal:

Gregório de Matos, de família rica, formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, era poeta e escrevia poemas sacros, líricos e satíricos. Podemos perceber que os temas mostram a dualidade barroca: poemas satíricos, que faziam críticas à sociedade da época, líricos, que exaltavam o amor, e sacros, que mostravam o pecado dos homens. Esta variedade indica o desejo do ser humano de levar uma vida mundana, mas com o receio do erro e do pecado trazido pela religião.

Padre Antonio Vieira, nascido em Portugal, viveu um grande período de sua vida no Brasil como missionário para implantação da fé católica no Novo Mundo, e é considerado um dos maiores expoentes do Barroco Português e Brasileiro. Ele desenvolveu como ninguém a arte da oratória, instrumento largamente utilizado pela Igreja Católica para a expansão de sua Contrarreforma. Ele escreveu em torno de 200 sermões, obras escritas que eram proferidas para os fiéis para mantê-los dentro da fé católica, mas também criticavam a prisão dos índios no Brasil, a Inquisição e outros problemas da época.

Colocamos aqui, para exemplo, um belo trecho do Sermão da Sexagésima, um dos mais famosos de Vieira:


Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há-de haver três concursos: há-de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há-de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há-de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, e necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento.


Interessante saber como o panorama do mundo se reflete nas obras da literatura, não é mesmo ?


Bem, ficamos por aqui. Um beijão e até a próxima !!!


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