sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Figuras de linguagem, exemplo prático, na música brasileira.



Olá, meus caros, vocês estão bem ?

Hoje quero apresentar uma música, também de Caetano Veloso, mas não é proposital que seja dele... é que vejo nela o uso insistente do recurso de figuras de linguagem como 
antíteses, paradoxos e metáforas... 

É bem interessante ver como podemos nos aproveitar desses recursos estilísticos para dar um colorido diferente a um texto, 
seja em prosa, em poesia, ou na letra de uma música, 
como é o caso aqui.

Proponho aos meus queridos leitores que tentem reconhecer essas figuras na música, e perceber o quanto seus usos valorizam o texto e o tornam mais atraente e forte...

A música se chama O quereres, que já impressiona pelo uso no título do verbo querer como substantivo e flexionado no plural, primeira informação e uso inusitados de uma série 
que se verificam no decorrer da letra.

Alguns paradoxos e antíteses não são tão evidentes, e solicitam um conhecimento maior de assuntos diversos, um contexto mais amplo (sempre devemos atentar aos contextos, aquilo que está implícito ou sugerido no texto, o que é importante nas 
interpretações semânticas)...

Fica o vídeo e a letra da música para seu deleite.

Um beijão, minha gente, aproveitem e apurem seus sentidos ! 
Até mais !!!



O Quereres


Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim





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