sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Intertexto, vamos falar um pouco sobre ele ?


Olá, minha gente, tranquilo por aí ?

Vamos falar hoje sobre a intertextualidade. Nome comprido, assunto em voga, mas que é relativamente simples. Vamos ver do que se trata ?

Intertextualidade é a criação de um texto a partir de outro já existente.

E esse texto original pode ser de qualquer tipo, um romance, um conto, um poema, uma propaganda, uma música, ou outros... e o texto produzido também pode variar no mesmo grau, inclusive pode ser produzida outra linguagem (novela ou peça teatral, por exemplo).

Vamos entender através de um exemplo.

Muitos de vocês conhecem a música Monte Castelo, da Legião Urbana. Ela é cantada por todo o Brasil e várias pessoas pensam que a letra é de um dos integrantes da Legião Urbana. Mas não é...

Vamos rever a letra da música:

Monte Castelo

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece
O amor é o fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É um não contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder
É um estar-se preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É um ter com quem nos mata a lealdade
Tão contrário a si é o mesmo amor
Estou acordado e todos dormem
Todos dormem, todos dormem

Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria


Para vocês terem uma pequena ideia, as partes escritas na letra em azul pertencem a um trecho da Bíblia, a Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, as partes escritas em verde provêm de um soneto do poeta português Camões, Amor é fogo que arde sem se ver (lembram que os sonetos de Camões são sempre nomeados pelo primeiro verso, né?). O pequeno trecho em laranja pertence ao grupo musical... Vejam os originais:


Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. O Amor nunca falha. Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor.

Bíblia, Paulo, Coríntios I.


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor? 

Lírica, Luís Vaz de Camões



O intertexto ocorre quando um texto é feito a partir de outro, ou outros, como no caso acima, que já havia anteriormente.

No nosso exemplo, vemos que o grupo Legião Urbana retirou partes dos dois textos acima, de São Paulo e de Camões, fez algumas adaptações e criou uma canção. Temos então um soneto e uma carta que deram origem a uma letra de música.

O intertexto é a conversa entre diversos textos, sejam eles usados parcial, totalmente ou somente na sua ideia principal.

Vemos, por exemplo, em novelas, histórias que se repetem, personagens que são baseadas em outras da literatura, propagandas que utilizam músicas conhecidas com a letra alterada, e por aí vai...

Temos várias personagens que são avaras, como o inesquecível Nonô Correia, do ator Ary Fontoura, tiradas do Avarento, bem como moças, no cinema e na televisão,  inspiradas na heroína/vilã de A Megera Domada, ambas do autor francês Molière, ou obras, propagandas, imagens tiradas de modificações da Gioconda, ou Mona Lisa, do italiano Leonardo da Vinci...

Esta conversa entre os textos e outras formas de comunicação nos dão aquele ar de já conheço isso, ou isso me lembra algo, que valoriza a criação: umas são homenagens aos autores originais, outras fontes de inspiração desses textos. 

Só se deve tomar cuidado para não copiar exatamente o texto anterior, ou dar os créditos, senão pode-se incorrer no crime de plágio...

Bem, é bom saber um pouco a mais sobre os textos, não é mesmo ?


Um beijão e até mais !


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