Olá, minha gente, tranquilo por aí ?
Vamos falar hoje sobre a intertextualidade.
Nome comprido, assunto em voga, mas que é relativamente simples. Vamos ver do
que se trata ?
Intertextualidade é a criação de um texto a
partir de outro já existente.
E esse texto original pode ser de qualquer
tipo, um romance, um conto, um poema, uma propaganda, uma música, ou outros... e o texto produzido também pode variar no mesmo grau, inclusive pode ser
produzida outra linguagem (novela ou peça teatral, por exemplo).
Vamos entender através de um exemplo.
Muitos de vocês conhecem a música Monte
Castelo, da Legião Urbana. Ela é cantada por todo o Brasil e várias pessoas
pensam que a letra é de um dos integrantes da Legião Urbana. Mas não é...
Vamos rever a letra da música:
Monte Castelo
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece
O amor é o fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É um não contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder
É solitário andar por entre a gente
É um não contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder
É um estar-se preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É um ter com quem nos mata a lealdade
Tão contrário a si é o mesmo amor
É servir a quem vence, o vencedor
É um ter com quem nos mata a lealdade
Tão contrário a si é o mesmo amor
Estou acordado e
todos dormem
Todos dormem, todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
Todos dormem, todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade
Que conhece o que é verdade
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
Para vocês terem uma pequena ideia, as partes
escritas na letra em azul pertencem a um trecho da Bíblia, a Primeira Epístola
de Paulo aos Coríntios, as partes escritas em verde provêm de um soneto do
poeta português Camões, Amor é fogo que arde sem se ver (lembram que os sonetos
de Camões são sempre nomeados pelo primeiro verso, né?). O pequeno trecho em
laranja pertence ao grupo musical... Vejam os originais:
Ainda
que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal
que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e
conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os
montes, e não tivesse Amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha
fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser
queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é
benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece,
não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não
suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera e
tudo suporta. O Amor nunca falha. Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo
línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos,
e em parte profetizamos; mas quando vier o que é perfeito, então o que é em
parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como
menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as
coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos
face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou
conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas
o maior destes é o Amor.
Bíblia,
Paulo, Coríntios I.
Amor é fogo que arde
sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Lírica, Luís Vaz de
Camões
O intertexto ocorre quando um texto é feito a
partir de outro, ou outros, como no caso acima, que já havia anteriormente.
No nosso exemplo, vemos que o grupo Legião
Urbana retirou partes dos dois textos acima, de São Paulo e de Camões, fez
algumas adaptações e criou uma canção. Temos então um soneto e uma carta que
deram origem a uma letra de música.
O intertexto é a conversa entre diversos
textos, sejam eles usados parcial, totalmente ou somente na sua ideia principal.
Vemos, por exemplo, em novelas, histórias que
se repetem, personagens que são baseadas em outras da literatura, propagandas
que utilizam músicas conhecidas com a letra alterada, e por aí vai...
Temos várias personagens que são avaras, como
o inesquecível Nonô Correia, do ator Ary Fontoura, tiradas do Avarento, bem como
moças, no cinema e na televisão, inspiradas na heroína/vilã de A Megera Domada,
ambas do autor francês Molière, ou obras, propagandas, imagens tiradas de
modificações da Gioconda, ou Mona Lisa, do italiano Leonardo da Vinci...
Esta conversa entre os textos e outras formas
de comunicação nos dão aquele ar de já conheço isso, ou isso me lembra algo,
que valoriza a criação: umas são homenagens aos autores originais, outras
fontes de inspiração desses textos.
Só se deve tomar cuidado para não copiar
exatamente o texto anterior, ou dar os créditos, senão pode-se incorrer no
crime de plágio...
Bem, é bom saber um pouco a mais sobre os
textos, não é mesmo ?
Um beijão e até mais !
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