domingo, 10 de agosto de 2014

As cantigas trovadorescas.



Olá, pessoal, hoje vamos falar de uma escola literária bem antiga: o Trovadorismo.


O nome Trovadorismo é originado de trovador, aquela pessoa que cantava e tocava instrumentos em festas medievais. Suas composições eram poesias cantadas, conhecidas como cantigas.

As cantigas medievais não eram escritas, eram criadas para serem cantadas, acompanhadas por instrumentos, por isso seus registros foram feitos por pessoas que pretenderam que elas não desaparecessem. As coletâneas das cantigas trovadorescas portuguesas, chamadas de Cancioneiros, eram três:

→ Cancioneiro da Ajuda: que era composto de Cantigas de Amor e é o mais antigo;
→ Cancioneiro da Biblioteca Nacional: cópia italiana de cantigas de todo tipo;
→ Cancioneiro da Vaticana: cópias de todos os tipos de cantiga.

E assim é que os primeiros registros de nossa literatura apareceram. E a poesia iniciou o ciclo da literatura no mundo, porque as rimas e a estrutura sintética das poesias facilitavam a memorização.

Estas cantigas, em Portugal, eram feitas num condado que ainda estava se formando como país (o Condado Portucalense), e cuja língua ainda não havia se consolidado como o português que conhecemos hoje. A língua usada nessas cantigas era o galaico-português ou galego-português, porque a região em que elas se desenvolveram ficava nos territórios de Porto Cale e da Galícia. Elas surgiram nos ambientes palacianos por todos os reinos medievais.

O primeiro registro em língua galaico-portuguesa é a conhecida Cantiga da Ribeirinha, ou Cantiga da Guarvaia (guarvaia é um tipo de manto vermelho), de Paio Soares de Taveirós, que data de 1189 ou 1198.

As cantigas trovadorescas eram de três gêneros:

Cantiga de amigo → este tipo de cantiga é inspirada na vida medieval popular rural. O eu lírico é feminino, normalmente uma moça que aguarda o retorno do amigo (namorado), que está fora do país, em guerra;

Cantiga de amor → esta cantiga tem como tema o amor cortês, do tipo platônico. O eu lírico é masculino, um trovador, uma pessoa simples, que se apaixona por uma mulher nobre, de outra classe social, inatingível. Nesta cantiga ele jura amor eterno e jura ser eternamente servo da senhora.

Cantigas de escárnio e maldizer → estas têm cunho crítico, irônico e sarcástico. O eu lírico ataca e critica os hábitos e ocorrências na corte. A cantigas de escárnio faz uma crítica velada, não mostra a quem ela é dirigida; já a de maldizer é um ataque direto, sendo citado até mesmo o nome da pessoa que está sendo alvo da acidez do trovador.

Vamos ver uma cantiga de amigo, do trovador D. Diniz, escrita, evidentemente, na língua antiga:


-Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?

Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pos comigo!
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado
aquel que mentiu do que mi ha jurado!
Ai Deus, e u é?

-Vós me preguntades polo voss'amigo,
e eu ben vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?

Vós me preguntades polo voss'amado,
e eu ben vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é san'e vivo
e seerá vosc'ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv'e sano
e seerá vosc'ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?

Glossário:

pino: pinheiro
u: onde
pos: combinou
san’ (sano): são
vosc’ (vosco): convosco
ant’o prazo saido: antes do prazo terminado


Difícil ? Nem tanto, mas é curioso, não é ?


Até uma próxima, meu povo. Beijos !



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