sábado, 23 de agosto de 2014

Figuras de Linguagem - primeira parte



E aí, meu povo, tudo certinho por aí ?

Hoje é dia de começarmos uma pequena série em três partes, para falarmos sobre um assunto que é interessante para os alunos que estudam para o vestibular e para entender melhor a literatura.

Vamos tratar das Figuras de Linguagem.

Figuras de Linguagem são usos de palavras ou expressões na língua com o intuito de dar ao texto, seja em prosa ou em verso, uma característica mais expressiva. 

Para tanto, pegamos estas palavras e expressões e as usamos com o sentido alterado em relação ao uso comum. 

Com esta modificação ou utilização inusitada, conseguimos um efeito esteticamente agradável, pois a expressão chama nossa atenção por sua estranheza em face do que é feito na linguagem corriqueira.

Para sermos mais práticos, vamos dividir estas figuras com relação ao tipo de modificação que fazemos para o efeito estético:

Podemos usar, para o recurso expressivo da figura de linguagem:

→ a modificação do sentido de uma palavra, dentro do contexto:

Quando dizemos que João é um touro, a palavra touro não está no seu sentido literal, e a alteração de sentido desta palavra traz o recurso expressivo. Queremos na verdade dizer que ele é forte, ou gordo, ou incontrolável como um touro.

→ a alteração da estrutura da frase:

Quando o Mestre Yoda diz que sofrimento e dor o Lado Negro traz, ele está fazendo o uso de uma quebra na estrutura normal da frase, o que causa estranheza e chama a atenção do leitor ou ouvinte, e daí, da estrutura da frase, nasce o recurso de estilo.

→ o jogo de ideias dentro do contexto:

Quando Camões diz que Amor é fogo que arde sem se ver, ele toca nossos sentidos com ideias que se contradizem, que até mesmo não fazem sentido num contexto literal (como algo é um fogo, arde e não pode ser visto ?). Este recurso lança mão de um jogo de ideias para realizar o processo de estilo.


A partir destes três níveis de recursos, podemos dividir as Figuras de Linguagem. Naturalmente, vamos falar aqui daquelas que são mais comuns, autores há que as listam em dezenas e dezenas de tipos, mas vamos aos mais conhecidos.

Hoje, trataremos das que mexem com a modificação das palavras.


Metáfora → a metáfora é a modificação do sentido de uma palavra, para efeito estilístico.

Marina sempre foi uma flor de formosura.

Na verdade, Marina não é uma flor, mas se compara em beleza a uma. A metáfora é uma comparação abreviada, que se faz na mente, não expressamente no texto.


Comparação → aqui temos a comparação textual.

Maria é bela e delicada como uma flor do campo.

O elemento de comparação (como) está expresso no texto, dizemos que Marina se compara em beleza e delicadeza a uma flor do campo.


Metonímia → trata-se do uso de uma palavra por outra a ela relacionada. Ela ocorre de várias maneiras, vamos citar algumas.

Mateus gosta de ler Machado de Assis.

Usamos aqui Machado de Assis, mas na verdade a pessoa lê o romance, o conto, a obra de Machado. Usamos o autor no lugar da obra.

Sorveu a taça de champanha com gosto.

Na verdade, a pessoa sorveu o conteúdo (o champanha) que estava na taça. Temos aqui o continente (taça) no lugar do conteúdo (champanha).

Ele não tinha teto para protegê-lo do frio cortante.

Na realidade, a pessoa não tinha casa. O teto (parte) está colocado para representar o todo (a casa).


Perífrase → nesta figura são usadas expressões que, pelos seus atributos, levam ao reconhecimento do ser a que elas se referem. São expressões explicativas que são colocadas no lugar do ser a que estão ligadas.

O Santo Padre esteve no Brasil (o Santo Padre é o Papa).
O Rei do Pop morreu cedo (referimo-nos a Michael Jackson).
A Locomotiva do Brasil anda emperrando (trata-se de São Paulo).
O Poeta dos Escravos pertencia à escola romântica (falamos de Castro Alves).


Sinestesia → é o uso de uma palavra que se refere a um dos sentidos para remeter a outro sentido do corpo. Na sinestesia, misturamos sensações.

Os sons multicoloridos da sinfonia nos encantam sempre (multicoloridos refere-se à sensação da visão, mas aqui mistura-se à ideia de ouvir, relacionada à audição).

Ela frequentemente fixa-nos seu olhar duro, como para nos criticar (a dureza é uma característica relacionada ao tato, mas aqui é colocada em relação à visão).


Catacrese  a catacrese é o uso de uma palavra ou expressão para designar algo que não tem um nome ou descrição próprios. Esta escolha é feita por semelhança entre o que se quer nomear e o que existe de parecido com ele.

Queimei o céu da boca com leite. 

Percebam que o "céu da boca" é arredondado e está acima na boca, por isso é associado ao céu, a expressão não é correta, mas está em uso na língua, talvez por causa do termo técnico palato ser uma palavra muito erudita e não ser usado pelo falante geral.

O mesmo acontece com "pé da mesa", "batata da perna", "dente de alho", entre outros.



Já temos algumas informações para pensarmos a respeito, não é mesmo ?

Voltamos numa próxima oportunidade com mais figuras de linguagem. Aguardem !


Beijos ! Ótimo final de semana a todos !


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