domingo, 25 de maio de 2014

Literatura: você conhece Camões ? E o du Bellay ?

Olá, pessoal, e a vida, tudo bem ?

Hoje, para tornarmos este nosso espaço mais élevé, como diriam os franceses (de mais nível), vamos apresentar dois representantes da época do Renascimento, da era chamada Clássica, e sua escola literária, o Classicismo, em língua portuguesa e em língua francesa.

O representante da nossa língua é o já conhecido (de nome) Luís Vaz de Camões (1524-1580).

O representante francês é Joachim du Bellay (1522-1560), um ilustre desconhecido para nós.

Camões é considerado um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos, e trabalhou em diversas áreas da literatura: poesia lírica (ligada às emoções), poesia épica (de aventura, heroica) e teatro. Sua obra mais importante é o famoso livro Os Lusíadas, difícil de ser lido, mas que vale a pena ser desafiado, nem que sejam só alguns trechos.

Só de sabermos do trabalho que ele teve em escrever uma história épica em versos heroicos (não tem mais acento, ok ? fica a dica...), ou seja, de dez sílabas poéticas cada, em oitavas (estrofes de oito versos), com rimas dispostas de maneira idêntica (ABABABCC), num total de 10 cantos, com 1102 estrofes, que formam 8816 versos, temos de, pelo menos, admirar sua genialidade e a dificuldade que ele enfrentou para escrever tudo isso... sem contar que dizem que ele perdeu o tal livro num naufrágio e teve de reescrevê-lo de memória... o cabra era bom... outros dizem que ele tinha uma amante, que morreu no naufrágio porque ele preferiu segurar o livro a salvá-la...

Coloco aqui um soneto, obra de poesia lírica, para mostrar como o mestre português era hábil em fazer versos (ah, os sonetos de Camões não têm título, normalmente são conhecidos e nomeados pelo seu primeiro verso):

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o Mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.

(Luís de Camões, Lírica)


Joachim du Bellay, contemporâneo do Luíz Vaz, era francês, e, juntamente com seis outros poetas, formou o primeiro grupo organizado de poetas na França, no séc. XVI, a Pléiade. Diferentemente do uso do clássico verso decassílabo (de dez sílabas poéticas), ou heroico, muito usado em Portugal e no Brasil por influência dos italianos, os autores da Pléiade optaram pelo verso de doze sílabas, chamado de dodecassílabo ou alexandrino, e popularizaram a forma, que é usada até hoje pelos franceses.

Posto também um belo soneto de du Bellay, feito em alexandrinos:

Heureux qui, comme Ulysse, a fait un beau voyage,
Ou comme cestuy-là qui conquit la toison,
Et puis est retourné, plein d'usage et raison,
Vivre entre ses parents le reste de son âge !

Quand reverrai-je, hélas, de mon petit village
Fumer la cheminée, et en quelle saison
Reverrai-je le clos de ma pauvre maison,
Qui m'est une province, et beaucoup davantage ?

Plus me plaît le séjour qu'ont bâti mes aïeux,
Que des palais Romains le front audacieux,
Plus que le marbre dur me plaît l'ardoise fine :

Plus mon Loir gaulois, que le Tibre latin,
Plus mon petit Liré, que le mont Palatin,
Et plus que l'air marin la doulceur angevine.

(Joachim du Bellay, Les Regrets)


Tanto no soneto português quanto no francês, devemos observar palavras de uso na época que não são mais correntes, ou de formas que se alteraram com o tempo.

Vale a pena tentar entender o que eles quiseram dizer nos seus versos e aventurar-se a traduzir o poema francês... Saber nunca é demais e, como se diz, não ocupa espaço...


Ufa ! Espero que tenha despertado a curiosidade de vocês para estes autores... Procurem saber mais... Sugestões, dúvidas, entrem em contato ! 

Au revoir, mes amis !

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